segunda-feira, 7 de maio de 2012


VISITA GUIADA PELO ENTRONCAMENTO

No passado dia 27 de abril, efetuou-se uma visita guiada pelo Entroncamento com o professor de História, Henrique Leal, subordinada ao tema “Nas ruas, com olhar de ver; ver é reparar, ver é (re)conhecer”.
Na verdade no nosso quotidiano diário, por vezes apressado, olhamos mas não vemos, não reparamos nos pormenores, não nos perguntamos a razão da existência de alguns detalhes, que passam despercebidos. Fazem parte da paisagem urbanística, sempre estiveram ali e mal damos por eles. Através desta visita, o professor Henrique Leal, ensinou-nos a olhar a cidade duma outra forma, ensinou-nos sobretudo a ver.
O Entroncamento não é apenas um concelho jovem, com uma grande densidade populacional. É mais do que isso. É uma urbe que nasceu do entroncamento ferroviário formado inicialmente pelas linhas do norte e do leste, em meados do sec. XIX, cuja população inicial proveniente de diversas regiões do país, à procura de emprego aqui se fixou, juntamente com alguns estrangeiros, responsáveis pela construção dos caminhos de ferro.
E foi justamente por aí que o professor Henrique Leal, abordou esta visita, através das raízes históricas existentes, em que assentou a matriz ferroviária da cidade.
A visita iniciou-se junto do marco do Bairro da Liberdade, património municipal, que outrora se chamou Bairro Salazar, com uma arquitetura típica do Estado Novo, iniciado e concluído no início dos anos 50, do sec. XX, e cuja toponímia assenta nas figuras ligadas ao regime. As características semelhantes deste bairro florido, com casas de dois pisos, estão presentes nos pormenores das portas e janelas com cercaduras de tijolo, nos gradeamentos, nos pequenos jardins e quintais. Na altura, destinou-se à população ferroviária, de classe média, ligada a atividades diferenciadas, inspetores, maquinistas, funções administrativas, etc.
Do outro lado da rua, existe um complexo de casas de habitação social, o Bairro Eng. Frederico Ulrich, destinado a famílias também ligadas à atividade ferroviária.
O grupo seguiu então pela rua 1º. de maio, fazendo uma paragem no Largo 24 de novembro, mais conhecido por Largo do Poço Novo, para apreciar o chafariz aí existente, recortado, simples, que em tempos serviu os moradores locais, retomando depois o seu roteiro pela referida rua, para mais à frente observar uma vivenda do início do sec. XX, designada Vila Fernando, com pormenores interessantes nas janelas e beirados, e sobretudo a sua típica mansarda, de influência estrangeira, para aproveitamento da luz solar.
A próxima paragem foi no Largo de Santo António, para apreciar o chafariz ali existente, com elementos escultóricos simples, e logo depois surgiu o Museu Ferroviário, um edifício que inicialmente foi armazém de víveres, e atualmente reinterpretado como um museu vivo dos comboios, para dar a conhecer o passado dos caminhos de ferro portugueses, e também a apresentação da realidade atual da ferrovia, e das novas tecnologias. No edifício está exposto o material circulante ligado à atividade ferroviária, locomotivas a vapor, carruagens, etc., sendo de realçar também neste museu o aproveitamento da estrutura concêntrica, destinada à recolha das locomotivas.
Seguiram-se os bairros ferroviários, todos com características da arquitetura do Estado Novo: o Bairro do Boneco, com a configuração de um pátio retangular, com casas de tipologia e moradores distintos: de um lado, casas térreas, do outro lado, casas de dois pisos, com as portas e janelas com molduras de tijolo, depois o Bairro da Vila Verde, onde se observam também o mesmo tipo de cercaduras, os jardins e quintais, e por fim o Bairro Camões, um bairro periférico, bonito, tranquilo, destinado aos quadros superiores ferroviários, da autoria dos arquitetos Cottinelli Telmo e Luís Cunha, caracterizado por alpendres, beirados, gradeamentos e jardins, e uma toponímia particular relacionada com a geografia do bairro. Neste agrupamento habitacional, existe um belo edifício escolar, da autoria dos mesmos arquitetos, que passou por diversos ciclos e finalidades: foi escola privativa do ensino primário dos filhos dos trabalhadores da CP, depois escola de aprendizes ferroviários, mais tarde escola do ensino liceal, e posteriormente do ensino especial. Atualmente, encontra-se praticamente ao abandono, degradado, e é pena não se preservar o património histórico da cidade.
Em seguida, o grupo percorreu a ponte pedonal sobre a linha férrea, que permite uma panorâmica abrangente sobre a estação, o museu, o complexo ferroviário envolvente, e uma vista sobre um grupo de casas do Bairro da Estação, situado na Rua Latino Coelho, de dois pisos, com os característicos beirados, e um pequeno quintal, e onde se destacam as respetivas chaminés recortadas e rendilhadas.
Através da Rua Abílio César Afonso, onde existe o primeiro bloco habitacional de apartamentos construído na cidade, dirigimo-nos à Igreja da Sagrada Família, inaugurada em 1940, da autoria do arquiteto Raul Caeiro, cujas obras foram dirigidas pelo arquiteto António Lino e pelo engenheiro Américo Macedo.
Apreciámos a fachada principal, que se divide em três corpos verticais: o corpo central em cantaria, onde se encontra o portal, o janelão, e acima da empena os arcos do campanário, e os dois corpos laterais de cantaria e pináculos dispostos em diagonal.
O percurso seguinte, levou-nos ao Largo das Vaginhas, um lugar emblemático, pois aqui se estabeleceram os primeiros habitantes, e implantaram neste local a singela Capela de S. João Batista, edificada com o produto das esmolas dos moradores, tendo em frente um peculiar chafariz, o Chafariz das Vaginhas, um depósito de água da autoria do arquiteto Cottinelli Telmo, datado de 1933, constituído por três colunas e uma esfera, e sobre esta dois tritões.
A próxima paragem interpretativa foi junto do busto do Infante D. Henrique, da autoria de Abílio Meireles, comemorativo do V centenário da morte do Infante, erguido por subscrição pública, com o patrocínio da Câmara Municipal.
A visita seguinte ao Jardim Pereira Caldas, remete-nos para o nome pelo qual é mais conhecido, o nostálgico jardim da aranha, símbolo incontornável da estufa onde a dita morava, e que dali foi levada, contra a sua vontade, temos a certeza…
O jardim dispõe também de um coreto, um miradouro e um parque infantil.
O roteiro pela história do Entroncamento que cumpria um programa predefinido, não poderia terminar sem uma paragem no Largo José Duarte Coelho, uma figura carismática ligada aos caminhos de ferro, que foi presidente da Junta de Freguesia, posteriormente presidente da Câmara, e grande impulsionador da urbe a concelho, em 1945, e onde se situa o edifício da Câmara Municipal, cujo largo fronteiro ostenta elementos escultóricos e jogos de água, que o separam do Centro Cultural. Este edifício, antigo mercado diário, datado de 1930, preserva na sua fachada um painel de azulejos, de natureza bucólica, alusivo à sua função original, e foi aqui que se concluiu esta interessante visita guiada, ameaçada pela chuva, que apesar de tudo não desmotivou os participantes.
Agradecemos ao prof. Henrique Leal, a sua disponibilidade, e o seu interesse em abrir os nossos horizontes históricos, pois certamente ficámos mais despertos para olhar a cidade com olhos de ver.

Texto elaborado por
Inocência M. Sequeira Gomes (aluna da USE)








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