VISITA
GUIADA PELO ENTRONCAMENTO
No
passado dia 27 de abril, efetuou-se uma visita guiada pelo
Entroncamento com o professor de História, Henrique Leal,
subordinada ao tema “Nas ruas, com olhar de ver; ver é reparar,
ver é (re)conhecer”.
Na
verdade no nosso quotidiano diário, por vezes apressado, olhamos mas
não vemos, não reparamos nos pormenores, não nos perguntamos a
razão da existência de alguns detalhes, que passam despercebidos.
Fazem parte da paisagem urbanística, sempre estiveram ali e mal
damos por eles. Através desta visita, o professor Henrique Leal,
ensinou-nos a olhar a cidade duma outra forma, ensinou-nos sobretudo
a ver.
O
Entroncamento não é apenas um concelho jovem, com uma grande
densidade populacional. É mais do que isso. É uma urbe que nasceu
do entroncamento ferroviário formado inicialmente pelas linhas do
norte e do leste, em meados do sec. XIX, cuja população inicial
proveniente de diversas regiões do país, à procura de emprego aqui
se fixou, juntamente com alguns estrangeiros, responsáveis pela
construção dos caminhos de ferro.
E
foi justamente por aí que o professor Henrique Leal, abordou esta
visita, através das raízes históricas existentes, em que assentou
a matriz ferroviária da cidade.
A
visita iniciou-se junto do marco do Bairro da Liberdade, património
municipal, que outrora se chamou Bairro Salazar, com uma arquitetura
típica do Estado Novo, iniciado e concluído no início dos anos 50,
do sec. XX, e cuja toponímia assenta nas figuras ligadas ao regime.
As características
semelhantes deste bairro
florido, com casas de dois pisos, estão presentes nos pormenores das
portas e janelas com cercaduras de tijolo, nos gradeamentos, nos
pequenos jardins e quintais. Na altura, destinou-se à população
ferroviária, de classe média, ligada a atividades diferenciadas,
inspetores, maquinistas, funções administrativas, etc.
Do
outro lado da rua, existe um complexo de casas de habitação social,
o Bairro Eng. Frederico Ulrich, destinado a famílias também ligadas
à atividade ferroviária.
O
grupo seguiu então pela rua 1º. de maio, fazendo uma paragem no
Largo 24 de novembro, mais conhecido por Largo do Poço Novo, para
apreciar o chafariz aí existente, recortado, simples, que em tempos
serviu os moradores locais, retomando depois o seu roteiro pela
referida rua, para mais à frente observar uma vivenda do início do
sec. XX, designada Vila Fernando, com pormenores interessantes nas
janelas e beirados, e sobretudo a sua típica mansarda, de influência
estrangeira, para aproveitamento da luz solar.
A
próxima paragem foi no Largo de Santo António, para apreciar o
chafariz ali existente, com elementos escultóricos simples, e logo
depois surgiu o Museu Ferroviário, um edifício que inicialmente foi
armazém de víveres, e atualmente reinterpretado como um museu vivo
dos comboios, para dar a conhecer o passado dos caminhos de ferro
portugueses, e também a apresentação da realidade atual da
ferrovia, e das novas tecnologias. No edifício está exposto o
material circulante ligado à atividade ferroviária, locomotivas a
vapor, carruagens, etc., sendo de realçar também neste museu o
aproveitamento da estrutura concêntrica, destinada à recolha das
locomotivas.
Seguiram-se
os bairros ferroviários, todos com características da arquitetura
do Estado Novo: o Bairro do Boneco, com a configuração de um pátio
retangular, com casas de tipologia e moradores distintos: de um lado,
casas térreas, do outro lado, casas de dois pisos, com as portas e
janelas com molduras de tijolo, depois o Bairro da Vila Verde, onde
se observam também o mesmo tipo de cercaduras, os jardins e
quintais, e por fim o Bairro Camões, um bairro periférico, bonito,
tranquilo, destinado aos quadros superiores ferroviários, da autoria
dos arquitetos Cottinelli Telmo e Luís Cunha, caracterizado
por alpendres, beirados,
gradeamentos e jardins, e uma toponímia particular relacionada com a
geografia do bairro. Neste agrupamento habitacional, existe um belo
edifício escolar, da autoria dos mesmos arquitetos, que passou por
diversos ciclos e finalidades: foi escola privativa do ensino
primário dos filhos dos trabalhadores da CP, depois escola de
aprendizes ferroviários, mais tarde escola do ensino liceal, e
posteriormente do ensino especial. Atualmente, encontra-se
praticamente ao abandono, degradado, e é pena não se preservar o
património histórico da cidade.
Em
seguida, o grupo percorreu a ponte pedonal sobre a linha férrea, que
permite uma panorâmica abrangente sobre a estação, o museu, o
complexo ferroviário envolvente, e uma vista sobre um grupo de casas
do Bairro da Estação, situado na Rua Latino Coelho, de dois pisos,
com os característicos beirados, e um pequeno quintal, e onde se
destacam as respetivas chaminés recortadas e rendilhadas.
Através
da Rua Abílio César Afonso, onde existe o primeiro bloco
habitacional de apartamentos construído na cidade, dirigimo-nos à
Igreja da Sagrada Família, inaugurada em 1940, da autoria do
arquiteto Raul Caeiro, cujas obras foram dirigidas pelo arquiteto
António Lino e pelo engenheiro Américo Macedo.
Apreciámos
a fachada principal, que se divide em três corpos verticais: o corpo
central em cantaria, onde se encontra o portal, o janelão, e acima
da empena os arcos do campanário, e os dois corpos laterais de
cantaria e pináculos dispostos em diagonal.
O
percurso seguinte, levou-nos ao Largo das Vaginhas, um lugar
emblemático, pois aqui se estabeleceram os primeiros habitantes, e
implantaram neste local a singela Capela de S. João Batista,
edificada com o produto das esmolas dos moradores, tendo em frente um
peculiar chafariz, o Chafariz das Vaginhas, um depósito de água da
autoria do arquiteto Cottinelli Telmo, datado de 1933, constituído
por três colunas e uma esfera, e sobre esta dois tritões.
A
próxima paragem interpretativa foi junto do busto do Infante D.
Henrique, da autoria de Abílio Meireles, comemorativo do V
centenário da morte do Infante, erguido por subscrição pública,
com o patrocínio da Câmara Municipal.
A
visita seguinte ao Jardim Pereira Caldas, remete-nos para o nome pelo
qual é mais conhecido, o nostálgico jardim da aranha, símbolo
incontornável da estufa onde a dita morava, e que dali foi levada,
contra a sua vontade, temos a certeza…
O
jardim dispõe também de um coreto, um miradouro e um parque
infantil.
O
roteiro pela história do Entroncamento que cumpria um programa
predefinido, não poderia terminar sem uma paragem no Largo José
Duarte Coelho, uma figura carismática ligada aos caminhos de ferro,
que foi presidente da Junta de Freguesia, posteriormente presidente
da Câmara, e grande impulsionador da urbe a concelho, em 1945, e
onde se situa o edifício da Câmara Municipal, cujo largo fronteiro
ostenta elementos escultóricos e jogos de água, que o separam do
Centro Cultural. Este edifício, antigo mercado diário, datado de
1930, preserva na sua fachada um painel de azulejos, de natureza
bucólica, alusivo à sua função original, e foi aqui que se
concluiu esta interessante visita guiada, ameaçada pela chuva, que
apesar de tudo não desmotivou os participantes.
Agradecemos
ao prof. Henrique Leal, a sua disponibilidade, e o seu interesse em
abrir os nossos horizontes históricos, pois certamente ficámos mais
despertos para olhar a cidade com olhos de ver.
Texto elaborado por
Inocência
M. Sequeira Gomes (aluna da USE)
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